03 agosto 2017

Carta I - luto de um guerreiro.

Estava cansado, com sono, esgotado. Dormira pouco naquela semana. Dormira pouco por ter aproveitado belas noites de uma nova paixão. Apesar disso, não se esquecia das pressões que a vida lhe impunha; dependência financeira, falta de recursos, pensão, trabalho, pai, mãe ausente.. Tinha como família os amigos.
Naquela semana recebera muito amor e carinho; tinha fé num novo ciclo que se desenvolvia ao seu redor, motivado pela eterna vontade de sentir a energia e as boas vibrações em seu coração, nada mais. 
Sábado, 29-07-2017, trabalhara o dia todo, feliz, flertava, como era natural do galo. Em casa, durante a noite, trocou mensagens de desabafo com seu amigo zafa, mandou vídeos com beijos para uma bestinha, como a chamava carinhosamente; quando se desligou do mundo virtual, por volta das 23 horas, não se ouviu mais um piu. Creio que ele se foi pouco tempo depois. Talvez tentara dormir um pouco, ou nem isso conseguira.. a angústia provavelmente o despertava. Não sei se sentiu dor, se sentiu, foi rápido e certeiro, como acontecia sempre com os verdadeiros malungos. A chama física do manamauê se apagou. 

...

Sentia uma estranha vibração daquele sonho de sexta-feira a noite. Havia comentado com ele, disse que o amava e pedi para que se cuidasse. Não sei se se cuidou, ou se deixou à escolha de Deus a sua saúde. Naquele dia, disse-me várias vezes que gostaria de partir. Desabafou comigo durante a noite; eu sentia que a única coisa que ele precisava naquela hora era do sono, de desligar seus pensamentos e seu corpo. Se assim o fizesse, acordaria vibrante a alegre como sempre acontecia. 
Quando acordei no domingo, passei a mão no celular e lhe mandei um áudio, um batuque sonoro. Mas não chegara a ele, já havia nos deixado. 
Sinto imensamente a sua falta, meu irmão. Sentirei a sua falta todos os dias da minha vida, até que a minha chama se apague também. Hoje ouvi aquele mantra que você sempre me passava. Creio ser o meio sonoro mais pertinente para o nosso contato, agora mais distante e etéreo. Todos os malungos sentem a sua falta. Então, na primeira carta, narro-te apenas os fatos ocorridos em torno de sua partida. Saiba que seu pai está se recuperando e amparado, e que nós te enviaremos boas energias todos os dias. Grande guerreiro de coração puro, sua verdadeira arma. 

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