Carta II - O mês de luto

Carta do mês de luto.

Falta. É agora o significado de Dan.
Dan, em hebraico, significa justiça.
Dan, para os malungos, significa amizade.
Dan, para o Rafael, significa força e fé.
E agora, antes de tudo, falta.

Perdi o diálogo, ganhei um monólogo.
Nunca fui muito bom em pensar sozinho.

Lembranças

Hoje pensei muito naquela senhora. Principalmente no que ela tenta sempre me ensinar: ser uma pessoa melhor para a família.
Entendo como família, a princípio, nossos país, irmãos, filhos, avós.. mas sei que isso se estende, depois, a toda a humanidade. São princípios de caráter, amor, solidariedade e humildade.
Creio que ela viveu uma vida de muito trabalho e luta.
O trabalho a dignificou, a luta a fez mais forte.

...

Gostaria de lhe contar um pouco de tudo que penso sobre a vida, e de como a enxergo. Me sinto muito reservado quando estou com contigo, não sei se por ter sempre muita gente perto ou simplesmente medo de dizer alguma besteira.

Sinto que um dia isso vai acontecer.. Por ora, não vou me alongar, tenho que escrever para outro amigo.

Obrigado pelos ensinamentos que consegue me passar mesmo quando a conversa é curta.
Que Deus esteja sempre olhando por você e sua família, que agora sinto como se fosse uma pequena parte da minha.

Uma semana se passou desde a última vez que nos falamos. Eu estava nesse mesmo quadro: em casa, lendo, ouvindo música, arranhando algumas melodias improvisadas no violão, vendo qualquer conteúdo na internet. Sempre que surgia, em qualquer dessas atividades, algo interessante, eu compartilhava contigo. Ao compartilhar, você retribuía com atenção; acrescentava. Não posso simplesmente parar de pensar nesses momentos. Ainda dói.

O espiritismo ensina que seguimos o caminho de Deus na companhia de nossos amigos; almas em sintonia e afinidade que se tornam amigas. Ainda tenho alguns amigos aqui na Terra, e neles sigo forte. Nos tornamos guerreiros de luz, e que assim seja.

Dona Omar, Juquinha e Aguinaldo.. mande essa energia ao malungo. 

Natural Mystic

Escrevi um dia aqui que só Bob poderia me entender em alguma certa vibração.

Não, não deixarei de afirmar que sim.

Existia, há um tempo, uma energia mística natural que pairava e influenciava qualquer rolê. Era uma época de entrega total a música e a vida; aos amigos. A energia se formava através da troca e da busca por sensações novas, vibrações e boas energias. Eu lembro como se fosse ontem, sem conseguir acessar às mesmas sensações. Hoje apenas recordo, ou sinto sozinho, sem a grandeza daqueles encontros.

Bob! Dan! Chico! Red! ... things are not the way they used to be.

Talvez seja a entrega do espirito a vida adulta; aos problemas e preocupações de inúmeras responsabilidades. Mas não queria deixar aqui palavras como problemas e preocupações, portanto, imagine que este parágrafo fora apagado.

...

Será que devo lutar pra resgatar alguma daquelas sensações? Onde estão meus amigos com o mesmo sentimento? Será apenas nostalgia? Vai saber..

Manama! Tamo junto sempre, meu irmão. Eu sei que você sente.

Carta I - luto de um guerreiro.

Estava cansado, com sono, esgotado. Dormira pouco naquela semana. Dormira pouco por ter aproveitado belas noites de uma nova paixão. Apesar disso, não se esquecia das pressões que a vida lhe impunha; dependência financeira, falta de recursos, pensão, trabalho, pai, mãe ausente.. Tinha como família os amigos.

Naquela semana recebera muito amor e carinho; tinha fé num novo ciclo que se desenvolvia ao seu redor, motivado pela eterna vontade de sentir a energia e as boas vibrações em seu coração, nada mais. 

Sábado, 29-07-2017, trabalhara o dia todo, feliz, flertava, como era natural do galo. Em casa, durante a noite, trocou mensagens de desabafo com seu amigo zafa, mandou vídeos com beijos para uma bestinha, como a chamava carinhosamente; quando se desligou do mundo virtual, por volta das 23 horas, não se ouviu mais um piu. Creio que ele se foi pouco tempo depois. Talvez tentara dormir um pouco, ou nem isso conseguira.. a angústia provavelmente o despertava. Não sei se sentiu dor, se sentiu, foi rápido e certeiro, como acontecia sempre com os verdadeiros malungos. A chama física do manamauê se apagou. 

...

Sentia uma estranha vibração daquele sonho de sexta-feira a noite. Havia comentado com ele, disse que o amava e pedi para que se cuidasse. Não sei se se cuidou, ou se deixou à escolha de Deus a sua saúde. Naquele dia, disse-me várias vezes que gostaria de partir. Desabafou comigo durante a noite; eu sentia que a única coisa que ele precisava naquela hora era do sono, de desligar seus pensamentos e seu corpo. Se assim o fizesse, acordaria vibrante a alegre como sempre acontecia. 

Quando acordei no domingo, passei a mão no celular e lhe mandei um áudio, um batuque sonoro. Mas não chegara a ele, já havia nos deixado. 

Sinto imensamente a sua falta, meu irmão. Sentirei a sua falta todos os dias da minha vida, até que a minha chama se apague também. Hoje ouvi aquele mantra que você sempre me passava. Creio ser o meio sonoro mais pertinente para o nosso contato, agora mais distante e etéreo. Todos os malungos sentem a sua falta. Então, na primeira carta, narro-te apenas os fatos ocorridos em torno de sua partida. Saiba que seu pai está se recuperando e amparado, e que nós te enviaremos boas energias todos os dias. Grande guerreiro de coração puro, sua verdadeira arma.